segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Os dois lados da moeda....



Senta que hoje o assunto é longo.
Ontem a tarde fui assistir ao filme Código de Conduta.
O filme desenvolve a história de Clyde Shelton (Gerard Butler), cuja esposa e a filha são assassinadas durante um assalto. Clyde estava presente e reconhece os criminosos, mas um detalhe jurídico contribui para que um deles, Darby, saia da prisão. Quando vai pedir ajuda ao promotor público Nick Rice (Jamie Foxx, de Ray), alegando que o assaltante estuprou sua esposa, o viúvo percebe que houve um acordo, baseado em delação premiada. Assim sendo, não há nada mais a ser feito. Clyde parte, assim, para planejar sua própria vingança. Dez anos se passam até ele começar o acerto de contas. O plano é fazer com que o sistema jurídico funcione a seu favor. Sistematicamente, Clyde passa a eliminar todas as pessoas responsáveis pelo inquérito que livrou Darby das acusações. Mas, por falta de provas conclusivas, ele não pode ser preso. Assim, cabe ao promotor Nick Rice impedir as ações do homem, indo muito além de seu trabalho jurídico (já que promotores não fazem investigação em cenas de crimes). Mesmo contra a vontade, ele acaba entrando no jogo de Clyde, que se satisfaz em humilhá-lo publicamente.
Bom, esse é o enredo do filme.
Mas esse post não é pra contar detalhes do filme.
É pra dividir com vocês o que mais me chamou a atenção: o filme mostrou claramente os dois lados de uma situação. De um lado alguém que não recebeu o tratamento justo e adequado do Estado (no caso, Clyde) e de outro alguém que poderia ter dado o tratamento justo e adequado buscado, mas não o fez por razões egocentristas e políticas (no caso, o promotor). Cada um à sua maneira, agiu. Tomou decisões. Seguiu o caminho escolhido.
Duas realidades bem distintas. Duas visões de uma mesma situação.
Impressionante como às vezes não conseguimos fazer essa distinção: que há duas realidades bem distintas, que há duas visões de uma mesmíssima situação. Duas ou mais, dependendo da quantidade de envolvidos, óbvio.
E essa constatação se aplica pra tudo.
De relacionamentos pessoais a situações mais funestas e simples, passando pelo trabalho, faculdade, cotidiano...
Eu trabalho com a justiça. Só que, a advocacia exige que se fique apenas de um dos lados da situação. O que me angustia, me conflita. Explico. Em todo o trabalho forense que executo, mas todo mesmo, fico imaginando como será que está o outro lado. Não consigo ter uma única visão da situação. Preciso sempre avaliar os dois lados. Porque sempre há a outra parte. E ela vai agir ou reagir.
Quisera eu poder ter esse comportamento em todas as situações que me rodeiam.
Aliás, isso eu posso, não é mesmo??!?
Só preciso ter a humildade de me colocar no lugar do outro.
Em toda a situação: da mais complexa a mais corriqueira,porque sempre vai existir o outro lado.




6 comentários:

Anônimo disse...

Amar ao próximo como a ti mesmo... Eu amei muito mais do que a mim mesmo... Mas a idéia é essa, tentar ver o lado do outro e, se possível, ajudar da melhor forma. O texto ficou muito bom.

meus instantes e momentos disse...

muito bom o post. Principalmente pelo modo claro e consciente que voce escreve.
Gostei daqui.
Maurizio

Desabafando disse...

Que dilema essa que vc vive nas experiências da sua profissão não?
Acho que se na vida pessoal tentarmos sempre nos colocarmos no lugar do outro conseguimos aprender a ser mais compreensivas e tolerantes. Já na profissão talvez nem sempre isso seja o aconselhável né?

Anotei a dica do filme...fiquei super curiosa pra assistir.

Unknown disse...

Oi Driii, como é que vc coloca aqueles coraçõezinhos do lado do nome heim? hahahah Lindo post, interesantíssimo. É verdade, nada na vida tem apenas um lado, uma versão, uma opção... Eu sou difícil de ver o lado oposto, sempre vejo o meu primeiro e muitas evzes tento me colocar na outra situação, no outro lugar mas é complicado... Mas a vida é pra isso mesmo, para aprendermos né. Beijão!

Anônimo disse...

É verdade, sempre existem dois lados. O grande problema é que também existe muita parcialidade. As pessoas escolhem quem defender, independentemente de o escolhido estar certo ou não. Manipulam situações, distorcem argumentos...

Mas, também, é preciso ter em mente que "o errado é errado". Em certas ocasiões, as circunstâncias podem justificar uma atitude (ação ou reação). Considerando a parte jurídica pode-se falar de algumas como a legítima defesa, coação...

Entretanto, existem outras que, a meu ver, jamais podem ser consideradas quando se quer exonerar alguém de culpa. Isso seria distorção de valores. É preciso saber distinguir essas situações.

Por exemplo, Alguém vive à margem da sociedade, sem qualque apoio ou suporte do Estado... nunca teve oportunidade de estudo, consequentemente de trabalho e vive passando necessidades - como fome... uma coisa é ele furtar comida ou mesmo algo para vender e comprar comida. Outra é ele roubar, assaltar, traficar drogas e/ou matar alguém.

No primeiro caso, acho que ele deve sim ser tratado com clemência ou até mesmo ser exonerado de culpa. Já no segundo, de forma alguma. Porque a situação dele não pode jamais "autorizar" a agressão a outra pessoa. Seria quase que como dar ao criminoso uma anistia prévia. Uma permissão pra cometer o crime, já que definiu-se que a conduta dele é justificável.

Além disso, quando se permite uma distorção como exceção, tem-se como obrigação permitir outras? Cada qual vai querer defender o seu. Então fulando espanca uma empregada doméstica no meio da rua, mas ele é uma criança (tem 20 anos, mas é criança pra quem defende); Beltrano estuprou alguém, mas ele fez isso porque o pai dele fazia com ele quando ele era criança...

Até que ponto o "outro lado" deve ser levado em consideração? Sempre tive extrema dificuldade com isso. Porque, como humanos, sempre há um "quê" de emocional nos nossos julgamentos... o que pode, por si só, gerar a distorção. Enfim...

Acho que por isso sempre pendi mais para a área burocrática e estatal. Supremacia do interesse público... Menos complicado! rsrs Qual tua área?!


p.s.: sempre dá erro quando tento comentar no teu blog. Já notaste isso?!

Bjo

Mylena M. disse...

"Em toda a situação: da mais complexa a mais corriqueira,porque sempre vai existir o outro lado."
Concordo!
E na maioria das vezes nem sequer existe o lado certo ou errado; a sua maneira cada um tem sua razão, seu motivo... mas não é sempre também!
Quanto tempo que eu não venho aqui, ainda nem tinha visto o 'visual' novo :D

:*